“Menino, engole esse choro. Caiu? Não foi nada, nem está doendo. Está com medo de dormir no seu quarto? Bobagem, é assim mesmo, uma hora você acostuma”. Talvez você tenha ouvido essas frases quando era criança, e saiba do que eu estou falando. Porque eu ouvi, e ainda sinto as palavras ecoarem dentro de mim.
Por um tempo parece que elas ficaram quietas. Até que o Henrique nasceu e elas voltaram a fazer barulho. Foi quando eu percebi que queria ser um pai diferente do que eu tive. Queria ser um pai que acolhia quando meu filho chorava, que respeitava seus sentimentos, mesmo ele sendo uma criança que ainda não consegue expressar bem o que sente. Queria que ele pudesse se sentir seguro dormindo no meu quarto enquanto ele precisasse disso.
Parece fácil, não é mesmo? Se você reconhece uma forma melhor de exercer a paternidade ou a maternidade, deveria ser simples colocar em prática. Mas como fazer isso sem referência? Por vezes eu ainda me pego muito bravo quando meu filho chora numa crise de birra – porque a verdade é que lá dentro está gravado outro modelo (engole esse choro, menino). Ainda não é automático parar, abraçar, tentar fazer com que ele nomeie seus sentimentos, já que ninguém fez isso por mim quando eu tinha a idade dele.
Por isso tenho chegado à conclusão de que mais uma das difíceis tarefas que nós, pais, temos é a de quebrar padrões que não funcionaram na nossa infância. Educação rígida demais, desvalorização das emoções, excesso de açúcar são alguns exemplos. E para isso haja trabalho: de autoconhecimento (recomendo terapia para quem quiser, tem ajudado muito por aqui!) e de adquirir novas visões de mundo.
Claro que eu tenho certeza também de que nossos pais fizeram o melhor que eles puderam ao nos educar. Era uma outra época, com outros conceitos e formas de enxergar a criação de um filho. Não nos cabe julgar, apenas avaliar o passado e nos perguntar como podemos construir um futuro melhor.
Leia livros, assista entrevistas, acompanhe influenciadores e especialistas que mostrem ideias com as quais você se conecta. Uma das vantagens de ser pai ou mãe agora é que nossa “aldeia” é maior, e não limitada como aquela em que nossos pais e avós cresceram, onde os modelos eram passados de geração para geração sem discussão. Reconecte-se com a sua infância, e permita-se fazer diferente. É um longo caminho a ser trilhado, mas acredite: é muito bonito.